Navegando, lendo blogs sobre religião e outros sobre física (postarei um vídeo logo depois), deparei-me com o Princípio Antrópico. É uma explicação fantástica, perfeitamente coerente com o que eu vinha pensando. E ler a matéria foi muito empolgante para mim. É o que segue:
princípio antrópico
Princípio antrópico é a crença, por parte de alguns físicos, de que seja virtualmente impossível que numerosos fatores no início do universo, que teriam de ser coordenados de forma a produzir um universo capaz de sustentar formas avançadas de vida, pudessem ser obra do acaso. Essa crença é tida por alguns como boa evidência de que este universo foi provavelmente criado por um ser muito poderoso e inteligente (provavelmente chamado Deus). Se a massa do universo e as intensidades das quatro forças básicas (eletromagnetismo, gravidade e forças nucleares forte e fraca) fossem diferentes, ou se não tivessem passado por "ajuste fino" para trabalhar em conjunto da forma que o fazem, o universo, como o conhecemos, não existiria. Um delicado equilíbrio de constantes físicas é "necessário para que o carbono e outros elementos químicos após o lítio, na tabela periódica, sejam produzidos nas estrelas". * Resumindo, é preciso que muitas coisas aconteçam em conjunto para existirmos (as chamadas "coincidências antrópicas"). Aparentemente, alguns físicos acham estranho existirmos justamente no momento da história do universo em que poderíamos existir.Baseado em tudo o que sabemos atualmente sobre cosmologia e física fundamental, a visão mais parcimoniosa e coerente do universo como o conhecemos é uma visão natural, sem que as observações científicas ofereçam nenhum sinal de desígnio ou criação proposital. --Victor StengerAs chances contra nós eram astronômicas. -- George Will
O físico Victor Stenger resume o princípio antrópico desta forma:
... a vida terrestre é tão sensível aos valores das constantes fundamentais da física e às propriedades do ambiente que mesmo a menor mudança em qualquer delas significaria que a vida, como a vemos ao nosso redor, não existiria. Diz-se que isso revelaria um universo no qual as constantes físicas da natureza são perfeitamente ajustadas e delicadamente balanceadas para a produção da vida. Segundo o argumento, são muito pequenas as chances de que qualquer conjunto inicialmente aleatório de constantes correspondesse ao conjunto de valores que elas têm em nosso universo. Logo, é excessivamente improvável que esse ato de equilíbrio preciso seja resultado de um acaso irracional. Em vez disso, um Criador inteligente, e certamente pessoal, provavelmente fez as coisas, de propósito, do jeito que são. (Para uma boa visão geral dos detalhes do suposto ajuste fino, veja o artigo de Stenger "As Coincidências Antópicas: Uma Explicação Natural").Nós não existiríamos e não seríamos conscientes do mundo ao nosso redor se ele não fosse compatível com nossa existência. Ou, como diz o físico Bob Park: "Se as coisas fossem diferentes, as coisas não seriam do jeito que as coisas são".
Outra forma de descrever o princípio é popular entre os que esperam que a ciência pare de martelar sua fé:
Os físicos tropeçaram em sinais de que o cosmo foi feito sob medida para a vida e a consciência. Descobriu-se que, se as constantes da natureza - números imutáveis, como a força da gravidade, a carga de um elétron e a massa de um próton - fossem minimamente diferentes, átomos não se manteriam juntos, estrelas não brilhariam e a vida jamais teria surgido. (Sharon Begley, Newsweek, July 1998.)Sim. Se as coisas tivessem sido diferentes, não estaríamos aqui. Mas não foram, e nós estamos. De qualquer forma, até onde eu sei, se uns poucos neurotransmissores estivessem ao norte ao invés de ao sul no meu cérebro, eu estaria proclamando que a física prova que Maomé é o profeta de Deus. Mas eles não estão, e eu não estou. Além disso, se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes. De qualquer forma, a improbabilidade de algo que já aconteceu é um tanto enganosa e, enfim, irrelevante. Como diz John Allen Paulos:
... a raridade, por si só, não é necessariamente evidência de nada. Quando alguém recebe uma mão de bridge de 30 cartas, a probabilidade de que tenha recebido aquela mão específica é de menos que uma em 600 bilhões. Mesmo assim, seria absurdo que alguém recebesse aquelas cartas, examinasse com cuidado, calculasse que a probabilidade de recebê-las seria menor que uma em 600 bilhões e então concluísse que não recebeu exatamente aquela mão, já que é tão improvável. (Innumeracy: Mathematical Illiteracy and its Consequences)Seria ainda mais absurdo declarar que um milagre deve ter acontecido e que uma força inteligente de dimensões sobrenaturais deve ter atuado por detrás de toda mão de bridge.
A expressão 'princípio antrópico' foi cunhada pelo físico Brandon Carter, que formulou a hipótese de as coincidências antrópicas não são aleatórias, e sim planejadas. Há várias variações do princípio, inclusive uma que parece ser idêntica ao idealismo filosófico clássico: o universo só existe porque o percebemos. * Isto é verdadeiro, e extremamente profundo e trivial ao mesmo tempo.
Como não temos nada com o que comparar o nosso universo, no entanto, parece presunçoso afirmar que sabemos qual a improbabilidade estatística da ocorrência dos fatores que eram necessários para que ele existisse. E se houver muitos universos? O nosso poderia ser bastante comum e não exigir nenhum tipo de Ajustador Fino. Além disso, não parece implicar a existência de um projetista argumentar que existimos no único momento da história do universo em que podemos percebê-lo, e que se determinado número de fatores tivesse sido diferente não estaríamos aqui agora. Não implica a existência de um projetista o fato de que, bilhões de anos atrás, não poderíamos ter existido e tanto o universo como nós seriam um delírio então. Nem implica nada o fato de que, em poucos bilhões de anos, este planeta começará a morrer e, poucos bilhões de anos após isso, não haverá nenhuma possibilidade de vida aqui. No entanto, observar isso significa garantir que a pessoa não ganhará o Prêmio Templeton. Além disso, argumentar a favor de alguma variação do princípio antrópico quase que garante a um físico o prêmio "o maior prêmio existente por conquista intelectual". *
Você pode imaginar o número de probabilidades condicionais que teriam de ocorrer para que um sujeito da zona rural do Tennessee entrasse em Yale e Oxford, ganhasse bilhões desenvolvendo fundos mútuos e encontrasse cientistas dispostos a receber dele toneladas de dinheiro para tentar provar que a ciência apóia um mundo de espíritos, a despeito de evidências esmagadoras em contrário? Ainda assim, apesar das inacreditáveis probabilidades em contrário, isso aconteceu. E não parece tão incomum.
Extraído de: http://skepdic.com/brazil/antropico.html
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